Wednesday, May 31, 2006

 

Branco

Esse branco... Caso não fosses tão branco!

Talvez assim, se fosses rasgado de letras e traços, por rabiscos manchado, não zombaria mais de minha incompetência, se acaso facundas.

Ó branco, dos papéis, das cartas anônimas, branco do mármore que ainda não é estatua é apenas branco.

Por que toda noite me torturas sendo branco?

Por que não lhe sujas em teu branco fugas?

Cuidado, pois um dia faço com que perca a cabeça, guardando no teu branco, minha, vida, versinhos e histórias antes que eu me esqueça.

Branco do meu amado e poético tormento, quando em ti vejo que não se borras por letras e palavras, não és mais meu instrumento.

Nessas horas reclusas e com raiva mim, me transforma num ser que provém do esterco, um excremento.

Se um dia conseguires arrancar de ti toda essa ausência de cor, não me importaria por todas as vezes que em minha face por ti se fez de rubor.

Se resolveres de mim não maltratar, volto mais uma vez a ti e posto estarei a sonhar

Sonharei, eu tem formoso branco-nada, as minhas formas de ser um tudo, em ti com minhas palavras dissertarei minha maneira de ver o mundo,

Idéias de grandes gênios, músicas compostas por grandes poetas e poesias de outros poetas músicos.

Livras de mim de mim esse meu jeito de com as mãos ser um completo mudo,

Privas-me de ti, não me faças infeliz no que amo fazer,

Não me julgues incapaz, pois, por mim das minhas palavras lhe insuflas, um dia não mais branco serás e isso juro-te postado diante e de joelhos ao teu branco covarde.

Arrancar-lhe-ei de tuas veias cândidas o teu seu sangue imaculado, com minhas mãos e suor que agora me ferve e ao pulso inflamas.

Ó branco infiel, perspicaz incontrolável branco de branquíssima limpeza, não cabes mais em mim a suma vontade de escrever-lhe com certa certeza.

Irei buscar ao fundo de sua alva celulose a extração perfeita da matemática literal

Quando tento lhe corromper, antes disso já me vences, corrompo mesmo a mim, esqueço de minha poética, parafraseio frases, copio outras obras, dando adeus a minha ética.

Rogo-lhe uma praga nesta maldita hora, os sentimentos que por ti em mim despertam não cabem em poucas palavras dispersas.

Na ingratidão de tua candura, queria eu aliviar toda minha amargura em uma forma escrita de cantar.

Branco de avivas e impolutas linhas invisíveis, se quando lhe olho vejo em traços retos e uniformes todas minhas letras e frases canções de amares possíveis.

Cansado, farto, exasperado, desisto e desejo que todos aqueles que escrevem por amar, se calem diante de teu branco trivial e se acabem por apenas chorar.

Maykon Luis Fernandes de Melo, 31 de maio de 2006


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